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Amos Oz conta a história de Profi, um miúdo judeu de doze anos «preso» na encruzilhada social, política, bélica e emocional de Israel, em 1947. Em Uma Pantera na Cave, no entanto, o inimigo é o inglês. Cedo Profi chega à conclusão de que, deibaixo daquela sua calma, pode ter uma «pantera na cave», pronta a sair. Mesmo que duvide do elogio que se fazem aos animais perigosos e selvagens, como a pantera ou o tigre ou a águia, enquanto as comparações com animais pacíficos úteis às pessoas (como a mula, o cavalo, o cão) sejam, invariavelmente, insultos. Importante é esta passagem:
- Mas o que fizémos nós para todos nos odiarem? - perguntei ao jantar.
A minha mãe respondeu:
-Por termos sempre razão. Não nos perdoam que, desde tempos antigos, não tenhamos feito mal a uma mosca.
Pensei cá para comigo: «Donde se conclui que não vale a pena ter razão». E também: «Isto explica a atitude do Ben Hur. Também eu tenho razão e não faço mal a uma mosca. Só que agora vai começar a época da pantera».
Amos Oz, Uma Pantera na Cave
[João Carlos Silva]
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