terça-feira, junho 05, 2007

Zink


Rui Zink sempre foi um tipo que me gerou simpatia. Aliás, para o tipo de pessoa estranha e incomunicável que sou, até tenho um grande número de simpatias irracionais espalhadas por esse mundo fora. Sobretudo, por esse Portugal fora (é verdade mesmo, os portugueses merecem simpatia). Mas o facto de simpatizar com ele não quererá dizer, necessariamente, um elogio rasgado. Penso que Rui Zink, em muitas pessoas, gerará, à partida, simpatia. Sentimento nobre mas frouxo. Gostar de alguém sem saber muito bem porquê pode ser um insulto grave. Aliás, quando há simpatia por alguém nem vale a pena ler os livros dessa pessoa. Infelizmente, esse será o caso de Rui Zink.

Mas decidi dar uma hipótese ao homem. Ou seja, decidi ser desconfiado e achar que não devia gostar tanto dele assim, sem mais nem menos. O facto de o ter visto, durante bastante tempo, na Noite da Má Língua, e de o ter visto de cuecas em manifestações, não era razão - pensei eu - para o ter no meu imaginário como grande pensador. E então agarrei-me ao Luto Pela Felicidade dos Portugueses, livro de crónicas editado pela Sábado. Verdade seja dita, não é um livro por aí além memorável. As crónicas não são, de todo, brilhantes. E a comparação (estranhamente natural, diga-se de passagem) do seu estilo com o de Miguel Esteves Cardoso é injusta para com Zink. Isto porque, no confronto directo de qualidade, Rui Zink, para infelicidade minha, perde para Esteves Cardoso. Mas o livro não deixa de ser engraçado. E vale a pena gastar bocadinhos da tarde (ou das tardes, para quem gosta de moer por mais tempo crónicas levezinhas) com estes textos. Aliás, deixo aqui um pedaço logo da primeira página. Muito representativo do tipo de «humor-sentença» que encontrei ao longo do livro, e principal razão pela qual este vale a pena:

«Se não nos pomos a pau, ficamos cinzentos. Começamos a dizer coisas tipo «no meu tempo», o que é perigoso, porque as palavras podem ser perigosas. As palavras criam realidades. Se repetirmos muitas vezes «no meu tempo» ainda acabamos, de facto, excluídos deste tempo.»

[João Carlos Silva]

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