terça-feira, maio 26, 2009

O estado das coisas

quarta-feira, maio 20, 2009

No laughing matter



Philip Seymour Hoffman e Laura Linney em The Savages (2007), um grande filme escrito e realizado por Tamara Jenkins. Um grande filme que, não por acaso, nasce de um excelente argumento

A «verdadeira liberdade» na URSS



Marc Ferro, em O Ocidente diante da Revolução Soviética (numa tradução da Editora Brasiliense), refere a grande desilusão que, na verdade, logo foi (muito antes de Estaline) o tão aguardado «governo do povo» da URSS:

«(...) À medida que todos os tipos de delegação, particularmente sindicais, regressavam do País dos Sovietes, o custo dessas transformações ia revelando seu preço cada vez mais exorbitante. (...) Nem por isso deixava de se revelar, obscuramente, que nenhum direito era mais concedido nem aos intelectuais que pretendiam pensar livremente (houve uma onda de expulsões de médicos, agrónomos, professores, etc., em 1922, com ameaça de serem fuzilados se tentassem voltar à URSS), nem às organizações não controladas pelos bolcheviques. E isso era feito em nome da "verdadeira liberdade", contraposta às falsas liberdades, chamadas de burguesas. E também se tornaa claro que não se podia mais pensar na ressurreição de vários partidos socialistas; e que, até mesmo no seio do Partido Bolchevique, o enquadramente dos contestadores não se podia fazer esperar, quer se tratasse de chamada "oposição operária" às medidas de desmantelamento dos comités operários ou daqueles que se opunham à "burocratização" excessiva. E, de resto, as razões invocadas pelo regime para declarar as greves ilegais e ilegítimas - os operários não podiam fazer greve contra si mesmos - não convenciam ninguém. A insurreição de Kronstadt revelou a amplitude do descontentamento dos próprios revolucionários (1921).»

Nota - sublinhado meu, para destacar a sádica ironia dos legisladores soviéticos, implícita na forma como rapidamente destruiram os direitos dos próprios trabalhadores, que mais não eram do que uma massa moldável às necessidades e ao destino da «mãe Rússia».

segunda-feira, maio 18, 2009

Minguante



Já está online o nº 14 da Minguante, com mais uma torpe tentativa deste rapaz fazer literatura.

Nota: também se anuncia nesta edição uma espécie de «fim», uma notícia tenebrosa para quem lê e escreve micronarrativas, uma minoria perseguida em Portugal. Espero que não seja, de facto, uma decisão irreversível e definitiva.

sábado, maio 16, 2009

Children of Men



Children of Men (realizado por Alfonso Cuarón em 2006), uma boa surpresa. E com uma nota pessoal: Clive Owen é, sem dúvida, um dos meus actores de eleição.

sexta-feira, maio 15, 2009

Terceiro milagre

No dia 13 de Maio, fiquei a desconfiar que o terceiro segredo de Fátima poderá ser qualquer coisa como isto: «a Feira do Livro de Lisboa, com o tempo, tornar-se-á uma tristeza». Se não for isso que a irmã Lúcia ouviu, então andará lá perto. Porque o que eu vi este ano confirma em parte essa supeita. Aquela coisa já anda longe da Feira do Livro onde eu me perdia ainda há poucos anos atrás.

Amor e política

Quando conheci a minha senhora ela estava perto do esquerdismo radical (embora a sua sensatez e moderação naturais a salvassem), ou, para ser mais preciso, algures entre a esquerda caviar e a esquerda romântica, com especial preocupação com a «situação de Cuba», país que merecia elogios seus numa ou noutra área. Já eu vibrava de esperança num novo presidente conservador pós-Reagan (Bush), deleitava-me com o esforço militar americano contra Saddam e quem mais surgisse e arrepiava-me com a conversa de greves e manifestações, que à altura grassavam as portas da Faculdade de Letras e não só. Disse que nunca nos entenderíamos. E, para meu orgulho científico, achava mesmo o que dizia. Deixámos de nos ver por algum tempo.

Quando a voltei encontrar éramos mais desiludidos. Eu, um liberal desinteressado, conformado e desiludido, que facilmente se contenta com a mera garantia das liberdades individuais (que já seria muito bom). Ela, vítima da inevitável desilusão que uma jovem de esquerda sofre quando começa a abrir os olhos perante o mundo, descrente em qualquer projecto social salvador de almas e (como mais tarde concordámos) desconfiada do consenso e de figuras consensuais e messiânicas como Obama. Neste «Bloco Central», encontrámo-nos.

Hoje, no seguimento de vários elogios ocasionais à figura, confessou-me que sonhou com Nuno Melo, o deputado do CDS que está à cabeça da sua lista para as Europeias. A este ritmo, ainda acabo trocado pelo Jaime Nogueira Pinto.

terça-feira, maio 12, 2009

Lembrança

Às vezes apercebo-me de que apenas escrevo para não me esquecer do que tenho para dizer. Quem sabe se não escreverão todos pela mesma razão?

domingo, maio 10, 2009

Appaloosa



Já não se fazem westerns assim. Em todos os sentidos. Isto é, não só já não se fazem westerns realmente bons - aqueles que davam primazia à qualidade do argumento, ao simbolismo e aos planos de câmara, em vez dos efeitos especiais (um verdadeiro assassínio do género) -, como já não se pode nem deve dar seguimento aos valores de outrora. Esses valores incluíam, sem dúvida, uma certa cultura «machista» onde «os homens não choravam» e as mulheres da cidade se dividiam entre senhoras e prostitutas, em que as últimas tinham participação activa na vida dos homens, sem qualquer escândalo. O politicamente correcto, de certa forma, matou a reprodução do western e, no fundo, dos irreversíveis valores do passado.

Mas Ed Harris conseguiu recuperar esse western em Appaloosa. Recupera os cowboys que ficaram para lá do western-spaghetti: John Wayne, Dean Martin, Jimmy Stewart, Steve McQueen e tantos outros. Recupera os heróis silenciosos e conformados, que não se preocupam com o gáudio das audiências mas que reservam sempre uma surpresa enérgica para um momento-chave da trama. Recupera a coragem exagerada e simbólica dos heróis e anti-heróis, sem olhar à necessidade de humanizar as personagens principais - Virgil Cole (Ed Harris) não tem medo de morrer e de levar um tiro.

Só assim seria possível referir, a dada altura, que Allison (a irritante Renée Zellwegger) procurará sempre o «beast stallion», ou seja, o macho dominante, independentemente dos sentimentos de qualquer uma das partes envolvidas. Ou seja, a fêmea procura o macho que vence, o macho que não se deixa pisar. Coisas do século XIX que fazem arrepiar o século XXI urbano.

Mas também há espaço para (tal como fez Clint Eastwood em Gran Torino) uma auto-ironia. Não do actor ou da sua personagem, mas do género. Por exemplo, Allison French oscila entre a dama de comportamento social elevado (procurando uma vida estável) e a mulher volúvel que não resiste aos impulsos básicos (e a perseguir o tal «beast stallion»). O vilão «muito mau» (interpretação exemplar de Jeremy Irons) que, para fugir aos seus perseguidores - que, mais do que a Lei ou a Justiça, representam a Moral -, se torna legítimo, se torna um homem de negócios sem pouco por onde pegar, e que dá mais a ganhar do que a perder aos homens influentes da cidade, numa hipotética alusão ao «vilão moderno» e ao mundo obsoleto dos justiceiros do Velho Oeste. E, algures dentro do filme, uma frase mágica de Virgil Cole quando é atingido, juntamente com o seu parceiro, num tiroteio, que revela que os heróis são, afinal, vulneráveis: «Everyone could shoot».

Embora longe de ser um filme perfeito, de possivelmente não corresponder às expectativas, e de ter um ritmo que dificilmente irá apelar a todos os espectadores, Appaloosa é um exercício magistral de um realizador - Ed Harris - que, mais do que ser um bom actor e um realizador bastante competente, é alguém que gosta muito de cinema, gosta muito dos clássicos e gosta muito de westerns. E isso, tire-se-lhe o chapéu, vê-se bem no filme.

quarta-feira, maio 06, 2009

Nome científico

- (...) E quanto mais ela me atraiçoava, maior era o meu desejo dela, a minha paixão. Um estado patológico. Qual é o nome científico que isto tem?

- Parvoíce - disse eu.


Dennis McShade, Mulher e Arma com Guitarra Espanhola

terça-feira, maio 05, 2009

Possantes e nutridas

«Os ricos gostam de mulheres magras», ouvira dizer algures, «mas os pobres querem-nas possantes e nutridas. As mulheres de boas carnes lembram fartura e trabalho, que é do que o pobre precisa.»

José Cardoso Pires, O Anjo Ancorado

sexta-feira, maio 01, 2009

Vícios