sexta-feira, maio 15, 2009

Amor e política

Quando conheci a minha senhora ela estava perto do esquerdismo radical (embora a sua sensatez e moderação naturais a salvassem), ou, para ser mais preciso, algures entre a esquerda caviar e a esquerda romântica, com especial preocupação com a «situação de Cuba», país que merecia elogios seus numa ou noutra área. Já eu vibrava de esperança num novo presidente conservador pós-Reagan (Bush), deleitava-me com o esforço militar americano contra Saddam e quem mais surgisse e arrepiava-me com a conversa de greves e manifestações, que à altura grassavam as portas da Faculdade de Letras e não só. Disse que nunca nos entenderíamos. E, para meu orgulho científico, achava mesmo o que dizia. Deixámos de nos ver por algum tempo.

Quando a voltei encontrar éramos mais desiludidos. Eu, um liberal desinteressado, conformado e desiludido, que facilmente se contenta com a mera garantia das liberdades individuais (que já seria muito bom). Ela, vítima da inevitável desilusão que uma jovem de esquerda sofre quando começa a abrir os olhos perante o mundo, descrente em qualquer projecto social salvador de almas e (como mais tarde concordámos) desconfiada do consenso e de figuras consensuais e messiânicas como Obama. Neste «Bloco Central», encontrámo-nos.

Hoje, no seguimento de vários elogios ocasionais à figura, confessou-me que sonhou com Nuno Melo, o deputado do CDS que está à cabeça da sua lista para as Europeias. A este ritmo, ainda acabo trocado pelo Jaime Nogueira Pinto.

4 comentários:

Samuel Filipe disse...

Temos um percurso parecido. Desde um liberalismo de direita até o actual, como diria alguém, um liberalismo à moda antiga. E realmente não é pouco.

continuando assim... disse...

que raio de sonho!!! é que não cabe na cabeça de ninguém....

João Carlos Santana da Silva disse...

Caro Samuel,

Concordo. E cada vez mais estarmos perfeitamente protegidos da intromissão dos outros (sobretudo do poder político) será uma raridade a proteger.

João Carlos Santana da Silva disse...

Cara Teresa,

Pensei o mesmo. Não é que me tenha em grande conta, e que o homem não se vista bem, mas já que o crime estava feito, podia ter sido mais ambiciosa :)