- Nunca te deixes apanhar;
- Esconde-te num local onde não te consigam encontrar;
- Não te deixes ver;
- Não fales;
- Não sorrias;
- Tenta manter uma postura séria, de indiferença;
- Nada de regressos.
[Paulo Ferreira]
quarta-feira, maio 30, 2007
terça-feira, maio 29, 2007
A cara da derrota
Para quem anda atento aos cartazes que enfeitam as cidades de Lisboa e do distrito de Setúbal terá reparado em dois cartazes específicos. Comum aos dois? São ambos da autoria dos senhores do PSD e da JSD, respectivamente. Se o que pode ser encontrado na margem Sul do Tejo (assinado «jsdsetubal»), mostrando um camelo num deserto como o epitáfio de Ministério das Obras Públicas - onde, supostamente e sugestivamente, estará o único camelo - é de um humor cabotino e exageradamente infantil, o primeiro, de Lisboa, é a epifania da derrota. Em Lisboa, multiplicam-se agora alguns cartazes de Fernando Negrão, candidato do PSD à Câmara de Lisboa. No entanto, não poderia ser pior o cartaz do homem. Face à cara decidida, vivaça e marota de António Costa, e partindo de uma óbvia desvantagem, Negrão entregou-se à sapiência dos mestres da publicidade do PSD, que o levarão à humilhação. Com uma cara tristonha e chorosa, não podia parecer mais derrotado. Lembrando Droopy, o cão melancólico e quase inexpressivo dos desenhos animados da Hanna Barbera, parte para o combate sem um pingo de determinação. Se a derrota tivesse cara, seria a cara de Fernando Negrão nos cartazes de Lisboa.
[João Carlos Silva]
[João Carlos Silva]
sábado, maio 26, 2007
Parabéns
Parabéns ao John Wayne, que faz 100 anos. Durante a maior parte da minha vida, achava John Wayne um actor ridículo. Pesadão, inexpressivo, monocórdico, demasiado castiço para ser verdade. Quando largava frases fortes (ou melhor, «curtas e grossas», como ele prvavelmente diria se fosse português), eu tinha vontade de rir, pela aparente caricatura que seria um homem assim - um actor assim - tentar ser «sério».
Com o tempo, e com a aproximação da minha condição de macho dominante, digo, de homem adulto, Wayne surgiu aos meus olhos de forma algo diferente. Apercebi-me que ele era o ídolo de todos os homens. Aquele que todos os homens quereriam ser, mais tarde ou mais cedo, numa ou noutra altura, mesmo sem realmente quererem ser como ele, ou ser ele. Qualquer homem que se preze sabe que dentro de si há uma natureza mais animal, mais primitiva, de ser visto como «macho», como o homem que a todos guarda, que lidera e protege o seu grupo nas migrações pela selva. John Wayne simboliza essa vontade escondida. A «personagem» que deu ao mundo, e que simbolizava a sua própria noção dessa natureza primitiva, confundiu-se com o homem. Em parte, talvez se tenha, de facto, tornado o homem. Cá no fundo, penso que todos nós, em algum dia das nossas vidas, já quisemos ou quereremos ser um pouco como John Wayne. O próprio cinema viveu dele, viveu disso, durante muito tempo. E viveu bem, diga-se de passagem.
Parabéns ao John Wayne, que faz 100 anos. Se o virem na rua, se o virem por aí, dêem-lhe um valente aperto de mão, que o homem bem merece.
[João Carlos Silva]
sexta-feira, maio 25, 2007
Essencial:
- Avril Lavigne fez topless para a Blender;
-Jenna Jameson apoia essa espécie de Virginia Wolf que dá pelo nome de Hillary Clinton;
- Romário, após marcar o seu golo número mil, festejou durante quinze minutos. Só depois dos festejos é que o jogo recomeçou.
- Michael Moore foi aplaudido em Cannes. Pediu-se encore.
[Paulo Ferreira]
-Jenna Jameson apoia essa espécie de Virginia Wolf que dá pelo nome de Hillary Clinton;
- Romário, após marcar o seu golo número mil, festejou durante quinze minutos. Só depois dos festejos é que o jogo recomeçou.
- Michael Moore foi aplaudido em Cannes. Pediu-se encore.
[Paulo Ferreira]
quinta-feira, maio 24, 2007
Manutenção da credibilidade masculina (notas)
- Lançar um foguete sem perder a mão que o lançou;
- Não pagar pensando nervosamente no troco;
- Entrar no táxi sem olhar para o taxímetro;
- Vestir t-shirt quando não é exigida camisa;
- Oferecer flores à namorada em momentos de não-desconfiança;
- Sobreviver à falta de dinheiro sem parecer um porco;
- Etc.
[Paulo Ferreira]
- Não pagar pensando nervosamente no troco;
- Entrar no táxi sem olhar para o taxímetro;
- Vestir t-shirt quando não é exigida camisa;
- Oferecer flores à namorada em momentos de não-desconfiança;
- Sobreviver à falta de dinheiro sem parecer um porco;
- Etc.
[Paulo Ferreira]
Que venha mais um...
O Insónia faz dois anos. Parabéns.
Alguém veio aqui parar com esta busca no Google: «vídeo mostra como se mostra a romper uma cona». Sem comentários.
- Henrique Fialho
[Paulo Ferreira]
Alguém veio aqui parar com esta busca no Google: «vídeo mostra como se mostra a romper uma cona». Sem comentários.
- Henrique Fialho
[Paulo Ferreira]
quarta-feira, maio 23, 2007
Amor sem fronteiras
«Não entra no nosso país de pedra», disse o soldado ao romântico escritor.
[Paulo Ferreira]
[Paulo Ferreira]
segunda-feira, maio 21, 2007
O salto
Nas imagens, enquadrando os pitorescos barcos em que, outrora, se transportavam as pipas do vinho, uma ponte de ferro, alta e bonita - um sítio belo para se morrer, pensou. E por isso veio: para o grande salto que lhe lavará a honra.
- Manuel Jorge Marmelo, O Profundo Silêncio das Manhãs de Domingo
[João Carlos Silva]
- Manuel Jorge Marmelo, O Profundo Silêncio das Manhãs de Domingo
[João Carlos Silva]
O direito a existir
Neste mundo, tal como existe, o importante não consiste em eu trabalhar, mas sim em conseguir arranjar dinheiro. Um homem sem rendimentos é como uma pessoa sem nome ou como sombras sem corpos.
Dá a impressão de que somos fantasmas. E isto em nada contradiz o que acima escrevi. Não sinto escrúpulos por não fazer nada. Escrúpulos tenho por a minha inactividade não me gerar rendimentos enquanto outros há que nada fazem e são muito bem pagos. Só o dinheiro justifica o direito a existir.
- Joseph Roth, Fuga sem Fim
[João Carlos Silva]
Dá a impressão de que somos fantasmas. E isto em nada contradiz o que acima escrevi. Não sinto escrúpulos por não fazer nada. Escrúpulos tenho por a minha inactividade não me gerar rendimentos enquanto outros há que nada fazem e são muito bem pagos. Só o dinheiro justifica o direito a existir.
- Joseph Roth, Fuga sem Fim
[João Carlos Silva]
Imperialismo bondoso
Nuno Rogeiro, na Sábado, diz que Portugal, «mesmo no auge do império», nunca teve «imperialismo armado» e que as batalhas celebradas em Portugal são, na maioria das vezes, «conflitos de resistência». Sendo talvez interessante e verdadeira esta segunda afirmação (curiosamente, nunca tinha pensado nisso), a primeira já deixa algo a desejar, muitas pontas soltas. Na verdade, e tendo em conta a área de especialização de Nuno Rogeiro, até poderá parecer algo irresponsável que diga que Portugal tinha um imperialismo, digamos, «benevolente». Se é esse o objectivo da frase, então Rogeiro está - humildemente constato - redondamente enganado. Infelizmente para o autor da afirmação, que muito aprecio. É que esquecer que, depois de Vasco da Gama, a Índia foi «descoberta» a ferro e fogo - sobretudo com Afonso de Albuquerque - é pôr luvinhas brancas de seda nas rudes mãos dos lusitanos. Os brandos costumes da nossa história não eliminam o verdadeiro carácter das coisas.
[João Carlos Silva]
[João Carlos Silva]
domingo, maio 20, 2007
Do gostar
Chamo-me Antonieta e não sei falar. Mas gosto de ti. Queres casar comigo?
- Manuel Jorge Marmelo, O Profundo Silêncio das Manhãs de Domingo
[Paulo Ferreira]
- Manuel Jorge Marmelo, O Profundo Silêncio das Manhãs de Domingo
[Paulo Ferreira]
sábado, maio 19, 2007
Cegueira
Naquela noite o cego sonhou que estava cego.
- José Saramago, Ensaio Sobre a Cegueira
[Paulo Ferreira]
- José Saramago, Ensaio Sobre a Cegueira
[Paulo Ferreira]
sexta-feira, maio 18, 2007
O conde
Gomes Eanes de Zurara, na Crónica do Dom Duarte de Meneses, acha o estilo e coloca as palavras: «depois da chegada dos infantes ao cerco de tanger se acoutou a dor no conde tanto per que conheceo em sy sinaaes de fallicimento.» Imagino: D. Duarte de Meneses, sentindo a dor em si, começou a deixar-se falecer.
[Paulo Ferreira]
[Paulo Ferreira]
quarta-feira, maio 16, 2007
terça-feira, maio 15, 2007
Notion of city
The dangers of «a notion of city» about Lisbon, according to Bruno Alves: «se de Pombais modernos está Lisboa cheia, e a autarquia em particular, pena é que o que a cidade precisa é de menos megalomania e um pouco mais de sensatez. De menos "ideias de cidade" que apenas escondem a vaidade (normalmente injustificada) do seu autor, e de mais atenção aos problemas que afectam a Câmara, e que desde logo a impedem de dar atenção aos problemas que afectam os lisboetas». Read more.
[João Carlos Silva]
[João Carlos Silva]
Irreversibilidade
Irreversibilidade é tomar consciência, depois de uma peladinha de futebol, de que o fôlego não voltará a ser melhor do que é. De que os músculos das pernas não voltarão a aguentar tudo. De que a bola de futebol correrá cada vez mais depressa do que eu. Irreversibilidade é isso tudo, é estar longe no tempo de algo. A «prova dos nove» de jogar um jogo de futebol é a mais cruel de todas.
[João Carlos Silva]
[João Carlos Silva]
segunda-feira, maio 14, 2007
A revolucionária
Permaneceu acordada, controlando os seus prazeres, como um poste suporta os ruídos nocturnos. O amor carnal era uma exigência da natureza. Para Natacha o amor era quase uma obrigação revolucionária - sempre que fazia amor ficava com a consciência tranquila.
- Joseph Roth, Fuga sem Fim
[João Carlos Silva]
- Joseph Roth, Fuga sem Fim
[João Carlos Silva]
Ponto de vista
«Do ponto de vista emocional, este tem sido o dia mais significativo.»
- Jornalista da Sic sobre os pais de uma criança desaparecida
[Paulo Ferreira]
- Jornalista da Sic sobre os pais de uma criança desaparecida
[Paulo Ferreira]
quinta-feira, maio 10, 2007
Silêncio
É difícil viver com as pessoas, porque é tão difícil o silêncio.
- F. Nietzsche, Assim Falava Zaratustra
[Paulo Ferreira]
- F. Nietzsche, Assim Falava Zaratustra
[Paulo Ferreira]
Ser e não ser
Tu dançavas, eu não. Tu eras da tarde, eu da manhã. Tu eras de sorrisos, eu de chorar. Tu eras de pensar no mundo, eu não. Eu não.
[Paulo Ferreira]
[Paulo Ferreira]
Ilusão
Não nos iludamos, não percamos tempo a pensar em países da cocanha: eu não amo o Outro, tu não me amas.
[Paulo Ferreira]
[Paulo Ferreira]
Fácil
Seria fácil sentir apenas uma pontada nas costas quando alguém nos abandona. Porém, quando alguém nos deixa, nem das costas nos lembramos.
[Paulo Ferreira]
[Paulo Ferreira]
quarta-feira, maio 09, 2007
O Cubo e a Catedral
Admito que não sou católico. Nem praticante nem devoto ao vício de submissão ao Senhor. Mas o argumento que George Weigel defende em The Cube and the Cathedral é, de facto, inegável. Weigel põe-nos à frente da cara a evidência: a Europa, os valores europeus, a «civilização» europeia, enfim, o modo de vida europeu e ocidental tal como o conhecemos, estão em risco. Não por vir aí uma vaga de terroristas muçulmanos armados, não porque «a guerra de Bush e seus lacaios» - ou, como diz o dr. Soares, a guerra «dos néo-cõs» - destruíu valores ocidentais, nem porque Sarkozy ganhou na Europa (perdoem-me a piada, até porque o livro é bem anterior). Não. Weigel vai a um ponto mais simples: a Europa está em crise porque «os europeus» (termo que me custa a dizer) não acreditam em Deus.
Ora, perante uma imigração muçulmana (de fé muçulmana, refira-se), e sua «reprodução» dentro de países europeus, os velhos habitantes do Velho Continente resolveram abandonar as suas crenças, ou seja, aquilo que os protegia face a uma possível imposição de «valores incontornáveis» dentro das culturas imigrantes. Escolhendo a laicidade, os europeus abdicaram das «armas» que tinham para combater - de forma pacífica, deve-se dizer para descansar as almas - crenças e costumes que podem, de facto, ameaçar o modo de vida ocidental. Num ponto de vista pessoal, nao tenho dúvidas que irão ameaçar cada vez mais nestas próximas décadas, sobretudo em França.
Embora não partilhe do optimismo cristão de Weigel, e da sua crítica demolidora ao «humanismo ateístico», concordo particularmente com a sua visão (apesar de tudo, serena) dos desafios que a Europa e, em menor grau, a América, terão de passar nos próximos tempos. A escolher uma aliada para esses desafios, que seja a religião católica, fundadora da moral felizmente saudável que todos nós temos e que ainda nos trava, por um pouco, a mão de chegar às armas. Seja contra o laicismo da UE ou contra os grupos organizados que agitam bandeiras de Alá, é a aliança recomendável.
[João Carlos Silva]
Ora, perante uma imigração muçulmana (de fé muçulmana, refira-se), e sua «reprodução» dentro de países europeus, os velhos habitantes do Velho Continente resolveram abandonar as suas crenças, ou seja, aquilo que os protegia face a uma possível imposição de «valores incontornáveis» dentro das culturas imigrantes. Escolhendo a laicidade, os europeus abdicaram das «armas» que tinham para combater - de forma pacífica, deve-se dizer para descansar as almas - crenças e costumes que podem, de facto, ameaçar o modo de vida ocidental. Num ponto de vista pessoal, nao tenho dúvidas que irão ameaçar cada vez mais nestas próximas décadas, sobretudo em França.
Embora não partilhe do optimismo cristão de Weigel, e da sua crítica demolidora ao «humanismo ateístico», concordo particularmente com a sua visão (apesar de tudo, serena) dos desafios que a Europa e, em menor grau, a América, terão de passar nos próximos tempos. A escolher uma aliada para esses desafios, que seja a religião católica, fundadora da moral felizmente saudável que todos nós temos e que ainda nos trava, por um pouco, a mão de chegar às armas. Seja contra o laicismo da UE ou contra os grupos organizados que agitam bandeiras de Alá, é a aliança recomendável.
[João Carlos Silva]
Pornografia
Muitas das gravações eram filmes eróticos que, observava António, pareciam eivados de terror metafísico. Rostos avermelhados escancaravam os olhos, grandes sexos pendiam entre coxas de velhos prestes a desfazer-se, e as mulheres jaziam, com falsas tatuagens a que o calor do estúdio derretia os contornos, e abriam as vulvas que ofereciam a cor de carne retalhada.
E António Eliseu, que sempre tinha achado ser a pornografia um recurso menor para pobres solitários, via-se a partilhar com os outros a atenção, o olhar gelado, severo, com que todos seguiam a tormenta dos corpos, a sua dança obscena e tão desesperada, essa aflita matéria uivante e só.
- Hélia Correia, Soma
[João Carlos Silva]
E António Eliseu, que sempre tinha achado ser a pornografia um recurso menor para pobres solitários, via-se a partilhar com os outros a atenção, o olhar gelado, severo, com que todos seguiam a tormenta dos corpos, a sua dança obscena e tão desesperada, essa aflita matéria uivante e só.
- Hélia Correia, Soma
[João Carlos Silva]
segunda-feira, maio 07, 2007
sexta-feira, maio 04, 2007
Guardar 3
Geme o que quiseres, transpira o que quiseres, faz o que quiseres. Aquele que guarda não se importa com tempestades.
[Paulo Ferreira]
[Paulo Ferreira]
quinta-feira, maio 03, 2007
quarta-feira, maio 02, 2007
Regência
No amor, não há reinados no presente mas sim no passado. Há o reinado de Pedro no coração de Margarida. Posteriormente, virá António reinar no coração de Margarida. Não há reinados no presente. No entanto, podemos falar em regências. És regente deste coração neste preciso momento.
[Paulo Ferreira]
[Paulo Ferreira]
Desgraçado
Quando te sentires desgraçado, lembra-te de quem te fez sentir desgraçado.
[Paulo Ferreira]
[Paulo Ferreira]
Esmola
Se te pedirem uma esmola, desconfia. Há quem goste excessivamente de acumular esmolas.
[Paulo Ferreira]
[Paulo Ferreira]
Ouvir dizer
Quando me disseram que era demasiado pessimista, fiquei contente e sozinho.
[Paulo Ferreira]
[Paulo Ferreira]
Amor
Quando descascas um tremoço, não pensas que anulaste as defesas do aperitivo. Pensas que vais engolir um tremoço. Pois bem, quando te apaixonas não tens a noção de brutalidade.
[Paulo Ferreira]
[Paulo Ferreira]
Neutralidade
A neutralidade não existe. A isenção não existe. Nunca serás neutro ou isento.
[Paulo Ferreira]
[Paulo Ferreira]
terça-feira, maio 01, 2007
Portas e o «um para um»
Do Desesperada Esperança, do meu caro amigo Bruno Alves, parte outra farpa em direcção ao novo líder do CDS/PP. Que o Bruno não gosta de Paulo Portas já toda a gente sabe, mas que ele gosta tão pouco do homem e da sua «reentrada» (de facto, um falso regresso encenado) não tinha consciência.
Paulo Portas irrita, sobretudo, aquelas pessoas que têm a mania de que o universo da política é um universo de ideias. Um universo de engenheiros e juristas. O problema é precisamente esse: a política é a Política. Isso mesmo, com letra maiúscula. Só assim se compreende que, por exemplo, José Pacheco Pereira, detentor de uma presciência respeitável e mais ou menos certeira, não tenha lugar no mundo da política. Que homens de negócios de «sucesso», como António Borges, tenham tentado entrar no mundo da política de malas e bagagens ideológicas - no caso de Borges, uma sacrossanta cartilha liberal que não teve em conta o país em que vivemos - e falhado redondamente antes mesmo de começar. Só assim se entende que Paulo Portas, sem nunca ter uma ideologia fixa, um princípio orientador, continue a ter os argumentos para vencer. Erra, por isso, o Bruno ao avisar que «a retórica apaixonada [de Portas] apenas esconde a falta de cuidado e atenção aos aspectos mais àridos do debate político, logo por azar, os que realmente afectam a vida das pessoas». Portas não está na política para ajudar ninguém. Está lá para vencer batalhas de oratória. Para convencer sem argumentos. Para demolir a oposição e abrir caminho às ideias e soluções que outros trarão. Em linguagem futebolística, dir-se-ia que está «condenado» à missão do «um para um», sempre mais espectacular e visível, sem grande utilidade para a equipa mas capaz de virar o rumo de um jogo de futebol.
Os debates no Parlamento não servem apenas para comparar números. José Sócrates, apesar de parvo, não é estúpido. E a estratégia das «folhinhas A4 na mão», lançando para o ar números e cálculos (de relatórios e «estudos» oficiais do Governo) funciona muito bem. Não é por aí que cairá este governo. O governo cairá fazendo Sócrates tropeçar na sua própria retórica, no seu próprio moralismo. Trocando os pés por desatenção ou por incoerência, como já aconteceu (e está a acontecer) no caso da Universidade Independente. «Fight fire with fire», diz-se. E quem melhor do que Portas para isso? Ninguém lhe pedirá nunca contas, e é por isso que deve ficar eternamente na oposição. Sem dúvida, para seu desprazer. A vozinha irritante de Portas pode, de facto, derrubar governos. Ou, pelo menos, cansá-los. Com o cansaço, as incoerências surgem à tona.
A política é, por isso, uma arte, um universo da retórica, em que vencem aqueles que convencem, mas, sobretudo, vencem aqueles que perdem em grande estilo. Portas é um daqueles homens que, porque «vivem, de facto, da política», cairão sempre com um berro, como o Mel Gibson do Braveheart. Um grito vazio de conteúdo mas com uma forma muito inspiradora. No filme, resultava. No nosso mundo, é possível que seja muito útil à oposição. O Bruno esquece-se disso.
[João Carlos Silva]
Paulo Portas irrita, sobretudo, aquelas pessoas que têm a mania de que o universo da política é um universo de ideias. Um universo de engenheiros e juristas. O problema é precisamente esse: a política é a Política. Isso mesmo, com letra maiúscula. Só assim se compreende que, por exemplo, José Pacheco Pereira, detentor de uma presciência respeitável e mais ou menos certeira, não tenha lugar no mundo da política. Que homens de negócios de «sucesso», como António Borges, tenham tentado entrar no mundo da política de malas e bagagens ideológicas - no caso de Borges, uma sacrossanta cartilha liberal que não teve em conta o país em que vivemos - e falhado redondamente antes mesmo de começar. Só assim se entende que Paulo Portas, sem nunca ter uma ideologia fixa, um princípio orientador, continue a ter os argumentos para vencer. Erra, por isso, o Bruno ao avisar que «a retórica apaixonada [de Portas] apenas esconde a falta de cuidado e atenção aos aspectos mais àridos do debate político, logo por azar, os que realmente afectam a vida das pessoas». Portas não está na política para ajudar ninguém. Está lá para vencer batalhas de oratória. Para convencer sem argumentos. Para demolir a oposição e abrir caminho às ideias e soluções que outros trarão. Em linguagem futebolística, dir-se-ia que está «condenado» à missão do «um para um», sempre mais espectacular e visível, sem grande utilidade para a equipa mas capaz de virar o rumo de um jogo de futebol.
Os debates no Parlamento não servem apenas para comparar números. José Sócrates, apesar de parvo, não é estúpido. E a estratégia das «folhinhas A4 na mão», lançando para o ar números e cálculos (de relatórios e «estudos» oficiais do Governo) funciona muito bem. Não é por aí que cairá este governo. O governo cairá fazendo Sócrates tropeçar na sua própria retórica, no seu próprio moralismo. Trocando os pés por desatenção ou por incoerência, como já aconteceu (e está a acontecer) no caso da Universidade Independente. «Fight fire with fire», diz-se. E quem melhor do que Portas para isso? Ninguém lhe pedirá nunca contas, e é por isso que deve ficar eternamente na oposição. Sem dúvida, para seu desprazer. A vozinha irritante de Portas pode, de facto, derrubar governos. Ou, pelo menos, cansá-los. Com o cansaço, as incoerências surgem à tona.
A política é, por isso, uma arte, um universo da retórica, em que vencem aqueles que convencem, mas, sobretudo, vencem aqueles que perdem em grande estilo. Portas é um daqueles homens que, porque «vivem, de facto, da política», cairão sempre com um berro, como o Mel Gibson do Braveheart. Um grito vazio de conteúdo mas com uma forma muito inspiradora. No filme, resultava. No nosso mundo, é possível que seja muito útil à oposição. O Bruno esquece-se disso.
[João Carlos Silva]
O essencial nunca se altera
ESTRAGON Olha para isto. (...) É engraçado que quanto mais como pior me sabe.
VLADIMIR Comigo é exactamente ao contrário.
ESTRAGON Ou seja?
VLADIMIR À medida que como vou-me habituando ao gosto.
ESTRAGON (...) E isso é o contrário?
VLADIMIR Uma questão de temperamento.
ESTRAGON De personalidade.
VLADIMIR Não podes fazer nada.
ESTRAGON É inútil resistir.
VLADIMIR Cada um é o que é.
ESTRAGON É inútil fugir.
VLADIMIR O essencial nunca se altera.
- Samuel Beckett, À Espera de Godot
[João Carlos Silva]
VLADIMIR Comigo é exactamente ao contrário.
ESTRAGON Ou seja?
VLADIMIR À medida que como vou-me habituando ao gosto.
ESTRAGON (...) E isso é o contrário?
VLADIMIR Uma questão de temperamento.
ESTRAGON De personalidade.
VLADIMIR Não podes fazer nada.
ESTRAGON É inútil resistir.
VLADIMIR Cada um é o que é.
ESTRAGON É inútil fugir.
VLADIMIR O essencial nunca se altera.
- Samuel Beckett, À Espera de Godot
[João Carlos Silva]
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