quarta-feira, maio 20, 2009

A «verdadeira liberdade» na URSS



Marc Ferro, em O Ocidente diante da Revolução Soviética (numa tradução da Editora Brasiliense), refere a grande desilusão que, na verdade, logo foi (muito antes de Estaline) o tão aguardado «governo do povo» da URSS:

«(...) À medida que todos os tipos de delegação, particularmente sindicais, regressavam do País dos Sovietes, o custo dessas transformações ia revelando seu preço cada vez mais exorbitante. (...) Nem por isso deixava de se revelar, obscuramente, que nenhum direito era mais concedido nem aos intelectuais que pretendiam pensar livremente (houve uma onda de expulsões de médicos, agrónomos, professores, etc., em 1922, com ameaça de serem fuzilados se tentassem voltar à URSS), nem às organizações não controladas pelos bolcheviques. E isso era feito em nome da "verdadeira liberdade", contraposta às falsas liberdades, chamadas de burguesas. E também se tornaa claro que não se podia mais pensar na ressurreição de vários partidos socialistas; e que, até mesmo no seio do Partido Bolchevique, o enquadramente dos contestadores não se podia fazer esperar, quer se tratasse de chamada "oposição operária" às medidas de desmantelamento dos comités operários ou daqueles que se opunham à "burocratização" excessiva. E, de resto, as razões invocadas pelo regime para declarar as greves ilegais e ilegítimas - os operários não podiam fazer greve contra si mesmos - não convenciam ninguém. A insurreição de Kronstadt revelou a amplitude do descontentamento dos próprios revolucionários (1921).»

Nota - sublinhado meu, para destacar a sádica ironia dos legisladores soviéticos, implícita na forma como rapidamente destruiram os direitos dos próprios trabalhadores, que mais não eram do que uma massa moldável às necessidades e ao destino da «mãe Rússia».

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