domingo, novembro 18, 2007

The Brave One



Para quem viu Taxi Driver, este novo filme de Neil Jordan é, sem dúvida, uma boa lembrança. The Brave One, com Jodie Foster e Terrence Howard (dois actores que muito prezo) não é uma revolução do cinema, como foi com o filme de Scorsese. Mas é um murro no estômago. É uma viagem pela perda, pela vingança e pelo ódio. É um estereótipo de «drama humano», mas sem luto. Sem lágrimas. Será possível preencher o vazio deixado pela perda (morte) de uma pessoa próxima, através da justiça pelas próprias mãos? The Brave One tenta dar a resposta. Falha, mas a reflexão fica lá, assim como um bom filme.

A Vida dos Outros



Há dias, fui ver, pela primeira vez, A Vida dos Outros, de Florian Henckel von Donnersmarck. Parti para a sala de cinema com uma opinião a ecoar na cabeça, uma opinião negativa que Vasco Pulido Valente havia deixado numa revista. No fim do filme, fiquei com vontade de rasgar o artigo de VPV. A razão é simples: o filme não é medíocre nem é suposto ser um documentário sobre a RDA. E passo a explicar.

Começo pela segunda premissa, acerca da veracidade de algumas coisas que surgem no filme. VPV acusa Donnersmarck de alguma ingenuidade em relação às pessoas em geral e à «redenção pela arte». O problema dessa acusação, no entanto, é o seguinte: um filme não é um tratado moral. Pelo menos, não o é em si, enquanto forma. Se aparecem frases feitas (como as há no meio de filme, uma ou duas, de facto), não são essas frases que fazem todo um filme. Há vida para além da «veracidade» e da «credibilidade» humana das personagens e da acção. E Wiesler, o Stasi que supostamente se redime e se «transforma» pela arte, é uma personagem cativante, sem necessariamente ser verdadeira. Provavelmente, nunca existiu nenhum Wiesler. Provavelmente, nunca houve na PIDE um homem que, atingido pela culpa, acabasse praticamente a «lutar» contra a própria organização, o próprio Estado que servisse, e pagasse o preço por isso. Mas a mensagem do filme - ou melhor, a história hipotética - não deixa de ser bonita. Os filmes não são a realidade, são a realidade que queremos. Hollywood ensinou-nos isso.

Depois, uma suposta acusação de mediocridade do filme. Aqui estamos no domínio das opiniões. Achei A Vida dos Outros um filme muito bom. Não o melhor que já vi, mas um muito bom. Muito interessante. Uma espécie de tragédia shakespeariana motivada pela culpa, pelo acaso, pela vingança e, não menos, pelo sexo. É o sexo que motiva o encontro de todas estas personagens, em especial o interesse sexual «devorista» e destruidor do ministro Bruno Hempf pela actriz namorada de Dreyman, o escritor que passa a ficar sob escuta para eventualmente ser «acusado» de algo, seja qual for a acusação. É o sexo que, tal como em Shakespeare, move muitos peões aqui. E isso é algo que, ao contrário de muitas peças, Shakespeare introduz de forma muito humana e muito cínica. Donnersmarck teve o cuidado de nos pôr um dilema shakespeariano em cinema, num cenário comunista. E em alemão, o que é obra.

Putin

Já se pode ler um novo artigo meu no Setúbal na Rede, acerca da visita de Putin a Portugal e das «lições de democracia» que dessa visita brotaram.

A moral orientadora do artigo é esta: «em matéria de “democracia” e de subsidiariedade, não estamos propriamente a ganhar terreno sobre Putin. A perda contínua de capacidade e mobilidade económicas dos pequenos poderes na Europa, e em Portugal isso é visível, corta-nos a palavra quando queremos ensinar Vladimir Putin a governar. Tanto Sócrates como Putin acham que sabem o que é melhor para o seu povo, e nisso, como sabemos, não há voz que lhes chegue aos ouvidos».

segunda-feira, novembro 12, 2007

Schmeichel e Bukowski



Depois de uma busca recomendada pelo Paulo, fico acidentalmente a saber que há uma dupla musical no Brasil chamada «Schmeichel e Bukowski». O que, pegando moda, dará certamente origem a uma hipotética dupla de samba «Buffon e Saramago».

Orgulho ibérico

O episódio foi este: na Cimeira Ibero-Americana que está a decorrer no Chile, Hugo Chávez não se fartava de dizer, debaixo das barbas de toda a gente, que José María Aznar era «um fascista». Zapatero tentou pedir respeito ao ditador venezuelano com calma e profissionalismo (desequilibradamente simpático, na minha opinião), já que Aznar tinha sido «eleito pelos espanhóis» democraticamente. Isto não foi suficiente para calar Chávez. Mas é aí que entra o herói desta história. O rei Juan Carlos, sentado entre Zapatero e Chávez, perde as estribeiras (com razão) e, tirando-me as palavras da boca, dirige-se a Hugo Chávez levantando a mão na sua direcção: «Por qué no te callas?».
Ainda dizem que a monarquia não faz falta nos dias que correm.

Sensação de realização

Quem não se sente realizado depois de comprar os seis volumes das Páginas de Ruben A., em desconto?

[João Carlos Silva]

Os «projectos olímpicos» da Baixa de Lisboa

A Baixa voltará a ser o centro da cidade se os lisboetas virem nisso alguma conveniência, porque foi por ter sido conveniente que a Baixa foi famosa no passado. Gastar milhões em projectos com o intuito de incentivar as pessoas a irem à Baixa é uma política condenada ao fracasso. Além do mais, prejudica os interesses de quem assumiu o risco de investir noutras zonas da cidade e, com o fruto do seu trabalho, paga os impostos que financiam a autarquia.

André Abrantes Amaral, Atlântico, Novembro 2007

Atlântico

Vale a pena comprar a Atlântico deste mês. Para além das contribuições habituais, que valem sempre a pena, traz como bónus um pequeno ensaio de Rui Ramos sobre as invasões francesas (que peca por alguma falta de profundidade, tendo em conta a extensão do «material» em análise), um excelente artigo de André Abrantes Amaral dando uma «luz liberal» ao planeamento de Lisboa, um texto de João Marques de Ameida dando um ensaio de porrada a Al Gore e ao «Comité Central» do Nobel, Fernando C. Gabriel sobre a África do Sul ou uma entrevista de Pedro Mexia a Paul Auster.

[João Carlos Silva]

Um estudo sobre Telma Monteiro



Não, não és o único, Bruno. Mas, machismo à parte, com as medalhas e o treino a Telma está a ganhar uma certa virilidade. Não deixa de ser uma mulher de talento, e uma atleta de talento também.

[João Carlos Silva]

Página 161, versículo 5

O meu caro conterrâneo e co-vitoriano Luís Silva meteu-me na seguinte alhada: devo «esticar o braço» e enfiá-lo por entre as páginas do livro que «estiver mais à mão de semear», mais precisamente na página 161, e pôr aqui a 5ª frase completa que encontrar nessa mesma página. Como não poderia deixar pendurada uma pessoa como o Luís (até porque já lhe dei castigo semelhante), foi o que fiz. Esticando o braço para a leitura actual, o Dracula de Bram Stoker (em edição da Dover), dei de caras com isto:

I smiled, and said: -
"I was ill, I have had a shock, but you have cured me already."


É pena não andar em leituras mais interessantes. Até porque há passagens bem mais interessantes tanto neste livro como noutros aqui nos arredores.

[João Carlos Silva]

quarta-feira, novembro 07, 2007

Contos de Algibeira



A antologia de micronarrativas Contos de Algibeira sairá já no dia 1 de Dezembro, às 18h30, em Porto Alegre, Brasil - na Alameda dos Escritores do Shopping Total (para quem conhece). Para além de excelentes escritores brasileiros, os portugueses também estão representados, sob a batuta sábia de Laís Chaffe. Entre tantos outros, contam-se por lá Gonçalo M. Tavares, Henrique Manuel Bento Fialho, Hugo Rosa, João Ventura, Luís Ene, manuel a. domingos, Maria João Lopes Fernandes, Nuno Costa Santos, Paulo Kellerman, Rafael Miranda, Rui Costa, Rui Manuel Amaral, Rui Zink ou Rute Mota (perdoem-me as graves omissões). Também eu entrei nesta empreitada com um texto, assim como o meu amigo Paulo Rodrigues Ferreira.

[João Carlos Silva]

sexta-feira, novembro 02, 2007

Minguante



Já saiu a Minguante nº8, de Novembro, agora que se tornou trimestral. Entre tantos outros muito melhores, está um medíocre texto meu.

[João Carlos Silva]

O estado das coisas



O rei está moribundo, e não me parece nada bem.

[João Carlos Silva]