Em Creators (Paul Johnson), fiquei a saber que Picasso, para além do mulherengo egoísta que foi - isso toda a gente sabe -, era das maiores bestas que já pisaram o planeta. Para além do instinto predatório para com mulheres, namoradas, amantes, amigos, patrões, colegas e público, tinha de facto uma condição psiquiátrica que «gritava»: psicopatia. Fosse Picasso um político, tenho a certeza de que seria pior do que Estaline.
[João Carlos Silva]
quarta-feira, agosto 29, 2007
O pintor mais perverso do século XX
terça-feira, agosto 28, 2007
Espaço (Schopenhauer)
Se o homem fosse só audição, de nada valeria o espaço. Se o mundo fosse só música, tudo o que serve para pôr os pés estaria a mais.
[Paulo Ferreira]
[Paulo Ferreira]
Palavra
Depois de cada palavra, há um silêncio. Depois de cada silêncio, poderá não haver nenhuma palavra.
[Paulo Ferreira]
[Paulo Ferreira]
quinta-feira, agosto 23, 2007
Nota sobre In the mood for love
Por mais quilómetros que caminhes, por mais tempo que descanses, a dor não passará.
[Paulo Ferreira]
[Paulo Ferreira]
Nota sobre 2046
Se o teu coração se partir em dois, não compres cola, não tentes arranjar outro tambor para o peito. Espera pela morte.
[Paulo Ferreira]
[Paulo Ferreira]
Metade da vida
Passei a infância a ser acusado de não saber o que era vida. Agora que ninguém me levanta o dedo para nada, sinto-me um tanto ou quanto frágil.
[Paulo Ferreira]
[Paulo Ferreira]
Eu e tu
Por me terem ensinado a pouco falar na primeira pessoa, opto não poucas vezes pela segunda pessoa. «TU». Falo «contigo» sobre «ti». Mas há sempre um «EU» escondido.
[Paulo Ferreira]
[Paulo Ferreira]
Duas vidas
Tinha tantos fantasmas no armário que ficou duas vidas sem trocar de roupa.
[Paulo Ferreira]
[Paulo Ferreira]
2
Ela era toda Che Guevara. Ele era mais chá inglês. O sexo entre os dois ficava no meio.
[Paulo Ferreira]
[Paulo Ferreira]
Vizinho
Se gostas do carro do vizinho mas não o podes conduzir, nem consegues juntar dinheiro para comprar um igual, não desesperes. A parede adora acolher os teus murros.
[Paulo Ferreira]
[Paulo Ferreira]
Harmonia
Se tentas viver em harmonia, das duas umas: ou estás a fazer algo que não te está reservado, ou vives noutro planeta.
[Paulo Ferreira]
[Paulo Ferreira]
Uma coisa
Há uma coisa neste mundo que só se moverá uma única vez. Falamos de ti e da tua ida para o caixão.
[Paulo Ferreira]
[Paulo Ferreira]
Ausência
Se sentes que há uma ausência na tua vida que deveria ser preenchida, preocupa-te. Não há regressos.
[Paulo Ferreira]
[Paulo Ferreira]
As velhas da cidade
Empoleiradas nas suas varandas - que não deveriam estar separadas por mais de dois metros - estavam duas velhotas silenciosas, apagadas, sozinhas. Comecei por me questionar: o que levará duas pessoas isoladas a não comunicarem uma com a outra? Olhando para as mulheres, percebi. Há um ponto da vida em que já não mais esperamos das pessoas do que do silêncio.
[Paulo Ferreira]
[Paulo Ferreira]
Tarado
Infelizmente, para o homem que se impressiona com a estética feminina durante o Verão, existe a palavra tarado.
[Paulo Ferreira]
[Paulo Ferreira]
Da rua
Numa cabine telefónica, uma bela senhora grita para o seu interlocutor: «Não te aguento mais. Vê se desapareces.»
[Paulo Ferreira]
[Paulo Ferreira]
quarta-feira, agosto 22, 2007
As Harpias
Um pequeno rapaz, sentindo-se extremamente apaixonado por uma pequena rapariga, não sabia como explicar aos pais as razões que o levavam a chegar a casa com o coração apertado. À falta de melhor, decidiu inventar uma história de perseguição, na qual as Harpias lhe tentavam arrebatar o peito.
[Paulo Ferreira]
[Paulo Ferreira]
segunda-feira, agosto 20, 2007
Nota sobre o movimento
Se uma perna não andar, a outra perna, por mais força que faça, não vai longe.
[João Carlos Silva]
[João Carlos Silva]
Leveza
Quando a bomba destrói os prédios da cidade, aparece um pó que transforma os dias em noite e as casas em sombras. Depois, quando o barulho das explosões dá lugar a outros sons menos ruidosos, mas não menos sofridos, surge no ar um outro pó. Menos escuro, mais leve, mais próximo dos céus.
[Paulo Ferreira]
[Paulo Ferreira]
Erro 2
O problema de seres tu a errar nem tem que ver com os outros. Tem que ver com o facto de seres um fracasso para ti próprio.
[Paulo Ferreira]
[Paulo Ferreira]
Erro
Acontecem-te muitos erros que são da tua inteira responsabilidade. Poder-te-ão acontecer erros que não comecem nas tuas mãos, mas cedo farás com que esses ditos erros passem a ser teus. Tudo o que falhas, mesmo que em ti não comece, em ti acaba.
[Paulo Ferreira]
[Paulo Ferreira]
Vida triste
A vida é triste. O céu é sempre o mesmo. A hora
Passa segundo nossa estéril, tímida maneira.
Ah não haver terraços sobre a esperança.
- Ricardo Reis, Poesia
[Paulo Ferreira]
Passa segundo nossa estéril, tímida maneira.
Ah não haver terraços sobre a esperança.
- Ricardo Reis, Poesia
[Paulo Ferreira]
Insucesso
O pior medo do escritor deveria ser a página em branco. Infelizmente, é o insucesso.
[Paulo Ferreira]
[Paulo Ferreira]
Prisões
Há quem viva em regimes pouco livres em termos políticos. Há quem viva preso a um matrimónio.
[Paulo Ferreira]
[Paulo Ferreira]
sexta-feira, agosto 17, 2007
Religião
A religião é injusta: Deus não te dá prendas por seres um homem subserviente.
[Paulo Ferreira]
[Paulo Ferreira]
Prática
A grande tragédia que envolve a palavra felicidade tem que ver com o facto de, em milhares e milhares de anos, cientistas, militares, poetas, professores, alunos, loucos, apaixonados, entre outros, nunca lhe terem encontrado uma aplicação prática.
[Paulo Ferreira]
[Paulo Ferreira]
Campeonato
Vences muitas partidas mas ficas sempre com a sensação de que o campeonato não é para ti.
[Paulo Ferreira]
[Paulo Ferreira]
Fantasmas 4
Apesar de conheceres os teus fantasmas como a palma da mão, não lhes tocas.
[Paulo Ferreira]
[Paulo Ferreira]
Fantasma 3
Tenho um fantasma que, para além de ter nome, tem cara, cheiro, morada e número de telefone.
[Paulo Ferreira]
[Paulo Ferreira]
quinta-feira, agosto 16, 2007
Fantasmas 2
O problema não é saber que os fantasmas existem. É saber que eles têm nome.
[Paulo Ferreira]
[Paulo Ferreira]
terça-feira, agosto 14, 2007
Asneiras
Se permanecer calado, não digo asneiras. Se não disser asneiras, não existo.
[Paulo Ferreira]
[Paulo Ferreira]
Barba grossa
Se não houvesse disputa, seria teu amigo. Mas não seria homem de barba grossa.
[Paulo Ferreira]
[Paulo Ferreira]
Ideias tolas
As minhas ideias são tão absurdas que não coloco a possibilidade de alguém me vir dizer ao ouvido que tenho razão.
[Paulo Ferreira]
[Paulo Ferreira]
Mau mau
domingo, agosto 12, 2007
sábado, agosto 11, 2007
Simpsons
Fui ver o filme dos Simpsons e, escusado será dizer, foi dinheiro bem gasto. Não é surpresa dizer que é bom, tendo em conta que a deturpação da essência da série não aconteceu quando se passou os Simpsons para o cinema. É quase um milagre da criação humana a longevidade do humor da série, que pouco ou nada sofreu com os anos - muito pelo contrário, até veio a refinar-se e a ganhar, subtilmente, contornos mais negros e menos mímicos. Se é possível falar de «obras de uma vida», então os Simpsons são, sem dúvida, uma delas. Não só a «obra da vida» de Matt Groening, como parte das vidas de todos nós, que apanhámos os Simpsons na infância, adolescência, juventude ou, simplesmente, na parte atenta da nossa triste existência.
[João Carlos Silva]
[João Carlos Silva]
Cão
Suspeito desde há muito que o cão é bastante mais esperto do que o homem: sempre estive convencido, até, de que o cão sabe falar, só que tem um feitio teimoso. O cão é um político extraordinário: repara em tudo, em todos os passos do homem.
Nikolai Gógol, Diário de Um Louco
[João Carlos Silva]
Nikolai Gógol, Diário de Um Louco
[João Carlos Silva]
Escrita
Por vezes, a escrita é um ofício impossível. É algo mais frágil do que um emprego de remuneração variável: meses há em que se passa fome.
[João Carlos Silva]
[João Carlos Silva]
Doutoramento em Carimbação
Peço um papel numa secretaria. Dizem-me que ainda não chegou a doutora que diz que os papéis estão feitos. Como tal, o papel também não chegou. «A doutora ainda não trouxe o carimbo», diz a simpática e inocente senhora que me atende.
[João Carlos Silva]
[João Carlos Silva]
Dona Inês
Hoje ainda não comprei o Expresso. E, portanto, à falta dos artigos que Inês Pedrosa ultimamente tem escrito, tive de me limpar ao papel quando fui à casa-de-banho.
[João Carlos Silva]
[João Carlos Silva]
O mal-estar do Verão
Por vezes, durante o agradabilíssimo calor de Verão, que encharca as pernas de suor e apoquenta o escroto, as livrarias deixam de ser apelativas ao leitor apaixonado. É que estar perante preços altos e troçistas - que escondem livros tentadores - faz transpirar ainda mais e faz o intestino dar a volta final em direcção à catástrofe, e em direcção a um W.C. de café.
[João Carlos Silva]
[João Carlos Silva]
O talento
Quem transporta o talento em si tem de ser o de alma mais pura. A outro qualquer será perdoada muita coisa, mas para ele não haverá perdão. Se um homem sai de casa com o seu fato de cerimónia claro, basta um salpico de lama provocado pela roda de uma carroça para toda a gente o rodear, lhe apontar o dedo e comentar a sua falta de asseio, mas não repara nas muitas nódoas nas roupas de todos os dias que envergam os outros transeuntes. É que na roupa do dia a dia não se vêem as manchas.
Nikolai Gógol, O Retrato
[João Carlos Silva]
Nikolai Gógol, O Retrato
[João Carlos Silva]
sexta-feira, agosto 10, 2007
Deserto
A grande maioria dos visitantes deste cantinho chega aqui através de pesquisas no Google. Palavras como «vaca», «sexo», «rata», «seio», «vadia», entre outras, são essenciais para atravessar o deserto.
[Paulo Ferreira]
[Paulo Ferreira]
Problema na biblioteca
Escrever posts à pressa porque a pessoa do computador do lado também é blogger e também não tem nada para escrever.
[Paulo Ferreira]
[Paulo Ferreira]
Cabra vadia
Um homem não sai de casa durante vários dias e, quando sai, depara-se com um calor insuportável e com um mundo que já não lhe pertence. Mulheres, pernas de mulheres, bronzes, asneiras, suores, piadas. Outras vidas.
[Paulo Ferreira]
[Paulo Ferreira]
quinta-feira, agosto 09, 2007
Berardo
Fui visitar a dispendiosa «Colecção Berardo» ao CCB e fiquei francamente desiludido. Estou, aliás, convicto de que tudo o que possa estar ligado ao CCB seja uma desilusão. Pelo dinheiro gasto, pelo vazio cultural, pela falta de gosto. Quem for a um qualquer museu de renome no estrangeiro, terá oportunidade de ver arte a sério. Aquilo que vi é pouco. Citando um visitante menos acostumado a lidar com o mundo dos livros e da cultura: «Vem um gajo com os putos ver quadros quando podia estar na Costa, pá.»
[Paulo Ferreira]
[Paulo Ferreira]
Lésbicas
Segundo uns rumores que me chegaram aos ouvidos, uma lésbica britânica foi condenada, embora não tenha sido presa, por bigamia. Parece que «formalizou uma união de facto» com a sua parceira sem estar divorciada do marido. Ora, nunca vi a cara nem o corpo da senhora em causa, no entanto, posso afirmar que sou a favor de tudo o que tenha que ver com contactos corporais entre mulheres. Então, com o calor, não consigo imaginar a prisão de uma mulher que durma com outra. Pior do que a homossexualidade de mulheres, mesmo que pouco bonitas, é a nudez de uma mulher feia.
[Paulo Ferreira]
[Paulo Ferreira]
J. V. Serrão
A casta nacional não tem tanto paladar quanto a estrangeira, mas, em termos de sensualidade, é o que de melhor se arranja na historiografia portuguesa. Joaquim Veríssimo Serrão.
[Paulo Ferreira]
Elvis de Campolide
terça-feira, agosto 07, 2007
Do rico pobre
Um pobre de espírito julgava-se rico por ter dinheiro. Mas o cheiro a fezes fazia com que a verdade não fosse ao fundo.
[Paulo Ferreira]
[Paulo Ferreira]
segunda-feira, agosto 06, 2007
Sms
Pela quantidade de vezes que recebi mensagens de L. F. Menezes, posso afirmar que o homem merece ser expatriado.
[Paulo Ferreira]
[Paulo Ferreira]
Imbecilidade
Se um génio, que é génio, nada faz para viver melhor consigo próprio, por que razão se preocupará um imbecil com coisas tão complicadas?
[Paulo Ferreira]
[Paulo Ferreira]
Antes e agora
Ao carregar com móveis vários às costas para um segundo andar, lembro-me da infância e de jogar às casinhas. Já nesse tempo imaginava que isto deveria ser complicado.
[Paulo Ferreira]
[Paulo Ferreira]
Pavese (nota)
A misoginia de Pavese não se limita a um simples ódio ao elemento feminino. É, mais do que isso, um amor que, por se alimentar exclusivamente de solidões, se transforma em ódio e em desprezo.
[Paulo Ferreira]
[Paulo Ferreira]
Deus
Novamente a experiência de que desejamos a dor para nos aproximarmos de Deus.
- Cesare Pavese, O Ofício de Viver
[Paulo Ferreira]
- Cesare Pavese, O Ofício de Viver
[Paulo Ferreira]
Fundamental
Quando uma mulher casa, pertence a outro; e quando pertence a outro, nada mais há a dizer-lhe.
- Cesare Pavese, O Ofício de Viver
[Paulo Ferreira]
- Cesare Pavese, O Ofício de Viver
[Paulo Ferreira]
domingo, agosto 05, 2007
A bela estupidez
A estupidez constitui um encanto especial numa mulher bonita. Pelo menos, conheci muitos maridos entusiasmados com a estupidez das suas esposas e que vêem nela todos os sinais da ingenuidade infantil. A beleza produz verdadeiros milagres. Todos os defeitos espirituais de uma beldade, em vez de causarem repugnância, tornam-se de algum modo incrivelmente atraentes, e o próprio vício, nelas, respira beleza; porém, se a beleza desaparecer, a mulher precisará de ser vinte vezes mais inteligente do que o homem para inspirar, se não o amor, pelo menos o respeito.
Nikolai Gógol, Avenida Névski
[João Carlos Silva]
Nikolai Gógol, Avenida Névski
[João Carlos Silva]
Acto falhado
A verdadeira ganância: encomendar uma pizza por telefone e ir buscá-la (por engano) a uma churrasqueira brasileira.
[João Carlos Silva]
[João Carlos Silva]
sábado, agosto 04, 2007
Roupa positiva
Fique-se sabendo que, na ânsia de criar uma (tenebrosa) religião positivista, Saint-Simon e Comte inventaram, entre muitas outras coisas, umas roupas que todos deveriam usar, com a particularidade de terem o fecho meio das costas. Ora, este obrigava a que fosse outra pessoa a fechar o dito cujo para ajudar a vestir. O objectivo: obrigar ao altruísmo. O resultado: rusgas policiais por desconfiança de orgias.
[João Carlos Silva]
[João Carlos Silva]
A única prisão
Vejo um documentário interessante sobre Cuba na RTP e vejo as largas dezenas de prisões espalhadas pela ilha ao serviço de Fidel Castro, ao serviço da ditadura castrista e dos órgãos de tortura política. Vejo um outro documentário sobre torturadores jugoslavos, um outro sobre franceses (e aí lembro-me, claro está, da abjecta Ilha do Diabo). Multiplicam-se os relatos históricos nas últimas semanas para me lembrar de quantas prisões encerram ou encerraram pessoas, muitas vezes inocentes, dentro das suas portas e as submeteram às mais terríveis torturas. E então pergunto-me: porquê fazer crer às pessoas que Guantánamo é a «causa de todos nós», que é a única e primeira das prisões a eliminar, que a América é o Grande Satã?
[João Carlos Silva]
[João Carlos Silva]
Memórias do cárcere comunista
Foi Assim, o livro de memórias dos «tempos de luta» de Zita Seabra, é um livro enriquecedor. De todos os lados têm partido os ataques ao livro da senhora. Independentemente de se gostar ou não da actual posição política de Zita Seabra (eu, pessoalmente, até nem gosto da sua rigidez ideológica adquirida, por oposto à antiga rigidez dos tempos da ortodoxia comunista), esta autobiografia «específica» cai que nem ginjas a qualquer um. Estou em crer que sim. Mas mesmo assim as baterias abrem fogo contra o livro. Porquê? Porque fala de outras pessoas. Porque, supostamente e realmente, «denuncia» a verdadeira personalidade de Álvaro Cunhal. Porque, supostamente e apenas supostamente, é um exercício revisionista de quem não se revê naqueles anos. De quem diz que não sabia de nada.
Infelizmente, para quem leu o livro com alguma atenção, a verdade é outra: Zita Seabra diz que não há como fugir daqueles anos; diz que voltaria a fazer tudo de novo; e que, tal como os outros, as notícias que recebia acerca do que realmente se passava na URSS chegavam-lhe mas não se deixou demover. Foi fanática e, tristemente, aceita esse facto como tal. Não renega a história. A sua e a do seu ex-partido. Nem a de Cunhal, que tanto admirou durante todos os seus anos de «Partido» (e durante a maior parte do livro).
Para não ter medo do livro ou, simplesmente, para não achar que é mais um incipiente livro de memórias, era bom dar uma vista de olhos por aquelas 400 e tal páginas. Não se abre mais a história do PCP tal como a conhecemos, mas as pequenas portas ao longo desse corredor historiográfico vão abrir-se, revelando talvez pequenas pérolas do dia-a-dia dos comunistas portugueses, mesmo depois do 25 de Abril. Ou isso ou podemos fazer como aquela senhora, que Zita refere no livro, que deixou de ver as notícias aquando da queda do comunismo, para manter a chama viva dentro dela, independentemente do que a «propaganda capitalista» andasse por aí a papaguear.
[João Carlos Silva]
Infelizmente, para quem leu o livro com alguma atenção, a verdade é outra: Zita Seabra diz que não há como fugir daqueles anos; diz que voltaria a fazer tudo de novo; e que, tal como os outros, as notícias que recebia acerca do que realmente se passava na URSS chegavam-lhe mas não se deixou demover. Foi fanática e, tristemente, aceita esse facto como tal. Não renega a história. A sua e a do seu ex-partido. Nem a de Cunhal, que tanto admirou durante todos os seus anos de «Partido» (e durante a maior parte do livro).
Para não ter medo do livro ou, simplesmente, para não achar que é mais um incipiente livro de memórias, era bom dar uma vista de olhos por aquelas 400 e tal páginas. Não se abre mais a história do PCP tal como a conhecemos, mas as pequenas portas ao longo desse corredor historiográfico vão abrir-se, revelando talvez pequenas pérolas do dia-a-dia dos comunistas portugueses, mesmo depois do 25 de Abril. Ou isso ou podemos fazer como aquela senhora, que Zita refere no livro, que deixou de ver as notícias aquando da queda do comunismo, para manter a chama viva dentro dela, independentemente do que a «propaganda capitalista» andasse por aí a papaguear.
[João Carlos Silva]
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