Foi Assim, o livro de memórias dos «tempos de luta» de Zita Seabra, é um livro enriquecedor. De todos os lados têm partido os ataques ao livro da senhora. Independentemente de se gostar ou não da actual posição política de Zita Seabra (eu, pessoalmente, até nem gosto da sua rigidez ideológica adquirida, por oposto à antiga rigidez dos tempos da ortodoxia comunista), esta autobiografia «específica» cai que nem ginjas a qualquer um. Estou em crer que sim. Mas mesmo assim as baterias abrem fogo contra o livro. Porquê? Porque fala de outras pessoas. Porque, supostamente e realmente, «denuncia» a verdadeira personalidade de Álvaro Cunhal. Porque, supostamente e apenas supostamente, é um exercício revisionista de quem não se revê naqueles anos. De quem diz que não sabia de nada.
Infelizmente, para quem leu o livro com alguma atenção, a verdade é outra: Zita Seabra diz que não há como fugir daqueles anos; diz que voltaria a fazer tudo de novo; e que, tal como os outros, as notícias que recebia acerca do que realmente se passava na URSS chegavam-lhe mas não se deixou demover. Foi fanática e, tristemente, aceita esse facto como tal. Não renega a história. A sua e a do seu ex-partido. Nem a de Cunhal, que tanto admirou durante todos os seus anos de «Partido» (e durante a maior parte do livro).
Para não ter medo do livro ou, simplesmente, para não achar que é mais um incipiente livro de memórias, era bom dar uma vista de olhos por aquelas 400 e tal páginas. Não se abre mais a história do PCP tal como a conhecemos, mas as pequenas portas ao longo desse corredor historiográfico vão abrir-se, revelando talvez pequenas pérolas do dia-a-dia dos comunistas portugueses, mesmo depois do 25 de Abril. Ou isso ou podemos fazer como aquela senhora, que Zita refere no livro, que deixou de ver as notícias aquando da queda do comunismo, para manter a chama viva dentro dela, independentemente do que a «propaganda capitalista» andasse por aí a papaguear.
[João Carlos Silva]
sábado, agosto 04, 2007
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